E
quando te esqueces do toque, mas não os dedos que sorriem ao
acariciar a minha face indiferente. Indiferente ao teu toque, mas
consciente do teu esquecimento. Estou a lembrar-me das últimas gotas
de uma chuvada a caírem no molhado; a escorrer por um vidro gelado
do chuveiro. Se me esqueci da chuva, essas últimas gotas são uma
excelente recordação. Correm em direcção ao oblívio, deixando
recados – tal como os teus dedos deixaram recados de outros tempos;
cartas devolvidas ao remetente porque o destinatário mudou de morada
ou faleceu.
E desapareceu como a chuva, mas esqueceu-se dos dedos
na minha face; sensações fantasmas que acariciam. E escorrem.
Ainda assim, a melhor recordação é aquela gota temerária que cai na página de um livro e, que ao fechar, marcou-a para sempre, tornando-se num marcador.
E é assim o teu toque: um marcador, uma gota de chuva, uma lágrima perdida algures num capítulo que avança com o soprar do vento.