Filmes na Cabeça

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Ele era daquelas pessoas que voltava a ler tudo no dia seguinte como um bom aluno a rever os apontamentos. Só que ele não esperava uma boa nota, mas lembrar-se de alguma coisa, de alguém, de um detalhe ou momento específico e para se certificar de que tinha acontecido. Que a conversa tinha existido.

Nessa tarde, os dois tinham ido beber chá. Chique, mas neutro. Ela tinha pedido leite para misturar e ele tinha achado estranho.
Não a beijou porque, também eles, não se podiam misturar.
Ele não queria mudar nada. Ele gostava da sua estabilidade. E se assinassem o contrato e ele não gostasse da força da água? Ou ver o seu leite misturado no chá? Ou dela… Tantos, mas tantos ses.
A carruagem travou bruscamente e ele perdeu o equilíbrio e o fio de pensamento. Apoiou-se contra a parede e voltou a ler as mensagens para disfarçar a acrobacia. E voltou àquele encontro.

Quantas músicas irão passar até chegar à sua paragem?
Começou a procurá-la na cara das pessoas que entravam, mas ela não estava ali. Nem dizia nada. Não tem interesse, admitiu. Aliviado? Arrependido? Talvez seja pelo melhor. Eles eram tão diferentes e aquilo ainda iria acabar mal.
Sacudiu a cabeça e as ideias com ela; sequências de comédias românticas cintilavam no canto da vista e eles ali a passear de mãos atadas.
Quando todos corriam para casa, eles não tinham pressa alguma. Sorriam. Naquele momento singular, ele tinha a certeza de que queria assinar o contrato; já estava com a caneta na não e só precisaria daquele momento. Mas qual? Qual era o sinal? E esse era o problema de quem via demasiados Love Actuallys – onde a banda sonora conduzia ao momento ideal para se fazerem coisas. Correr pelo aeroporto? Invadir um restaurante? Uma peça de teatro?

Pára! Parou.