Saímos da igreja com a manhã a terminar. O Sol brilhava tímido, mesmo com as nuvens a cobri-lo.
Por entre as pessoas, uma mulher saiu disparada e barrou-me as escadas:
“Marco, não podes comungar sem te confessares!”
“Então porquê?”
“Porque é assim que funciona! Tens de te confessar ao Senhor Padre e ir sem pecado, homem.”
Nisto, parei para lhe ler a expressão.
“Mas eu só como porque é boa… É a minha única alegria nesta coisa.” Encolhi os ombros. Ela bateu com o pé e bufou.
“É que nem digas isso à frente do meu homem. Ele leva isto bastante a sério!”
“E tu não?”
“Claro, mas eu estou confessada.” Ela fitou-o com desdém. “Não pequei!”
“Juras? Olha que todos temos pecados. E segredos. Também os contas no confessionário? Um segredo por uma hóstia” zombei.
A Maria revirou os olhos.
“Outra coisa” continuei. “E se tos contar?”
“Não. Tem de ser a um Padre. E eu não tenho hóstias, homem.”
“Mas tens segredos. Nós os dois.” Virei-me e cruzei os braços à frente daquela mulher. Estava a picá-la, mas ela era uma raposa.
“Ele está próximo de Deus, nosso Senhor. Só ele te pode perdoar pelas coisas que fazes. E dizes!”
“Acho que somos todos católicos por aqui, Maria. Tu rezas. A tua avó reza todas as noites. Ela fala com Deus! Não me posso confessar a ela? Tenho de falar com um estranho porque tem linha directa?”
“Eu, eu sei lá, Marco.”
“Mas sabes que vi na televisão que falar com um desconhecido até é melhor.”
Juntei as mãos angelicalmente.
“Não nos conhecem. Não nos julgam.” Sorri. “À nossa frente, claro. Mas um psicólogo também funciona.”
“Coisas diferentes!”