Reparei na expressão frustrada da Maria. Eu conseguia ser uma besta e tentava tirar prazer naquelas discussões tontas para me armar. Não estava a ir a lado nenhum, então abrandei.
“Pronto. OK. Eu confesso-me: gosto de alguém. Tenho saudades dela e quero estar com ela na rua sem medos. Quero fazer uma vida com ela. Estou farto de estar sozinho. Vou contar isto a um Padre? O que percebe um Padre destes assuntos?
Ele nunca esteve com uma mulher. Nunca esteve nos braços de uma, amou uma. Se nunca sentiu o prazer da carne, que percebem eles?
Pronto, este é o meu segredo.
“Parvo…” atirou-me discretamente.
“Ajuda-me aqui. Absolve-me.”
Encostei-me ao arco no topo das escadas. Já não havia movimento à saída da igreja. Lá dentro, o Padre tinha sumido para a sacristia e as beatas limpavam com aprumo.
“Um padre sabe o que é a devoção” Começou. “Ao hábito; à Igreja; a Deus; a todos nós. Sabe o que é amar incondicionalmente, pois aceita cada um tal como é. Tem medo e conhece a solidão. Porque Padre é um pai e como um pai tem medo de ser esquecido pelos filhos.
E um Padre não nasce Padre.
Ele conhece a saudade de tempos e de corpos que já passaram.
O que sentes não se compara à vida de um. É bom que ames, mas cuidado para não seres magoado. Um Padre ama sempre sem cuidados e de portas abertas. E também é rejeitado.”