A Última Música

retro turntable playing vinyl disc in living room

Fechei os olhos e massajei as pálpebras pensativas: Quando ainda me apetecia sair, gostava de ir ao tal bar do costume.

Fechei os olhos e massajei as pálpebras pensativas:
Quando ainda me apetecia sair, gostava de ir ao tal bar do costume. Um bar agradável com bom ambiente e música ao vivo, às sextas. Mas o que queria, era uma noite relativamente calma antes de morrer e ir a um bar não era bem o que estava a planear, mas a verdade é que me apetecia beber álcool. Muito álcool.

Lá no bar, e dependendo da música, poderia armar-me e beber bebidas mais eruditas. Um tintinho acompanha uma boa carne, uma boa música tem de ser acompanhada com uma boa bebida. Simples e sem grandes misturas; umas pedras de gelo para manter a frescura e a cabeça fria. A língua dormente arrefecia o ar inspirado pela boca – não era muito saudável, mas apreciava o paladar atmosférico misturado com o álcool.

No meu banco, reparava que muitas mulheres frequentavam este bar na esperança de encontrar um tipo com um bom gosto musical; artístico; bem-parecido – giro porque também interessa, mas, na maior parte das vezes, saíam sozinhas porque o tipo de homens que encaixava na descrição já estava comprometido. Ou era gay. Ou não estava minimamente interessado.
Estavam ali para a música. Que é como quem diz: estavam ali, mas não estavam. Se os músicos estivessem concentrados no seu afã, não faziam música, mas amor e quando um homem fazia amor, nada o conseguia parar nem a guerra nem os olhares de uma mulher ciumenta. Uma bela melodia fazia das pessoas voyeur e pervertidas. Podia-se observar o toque no instrumento; o acariciar das cordas; as palmadas na percussão; os beijos e o prazer oral nos instrumentos de sopro.
Os gemidos de prazer das notas; o silêncio e a tensão do público. O suor e, no fim, um orgasmo. Os aplausos.

Nada, mas nada nem ninguém o poderia distrair da música. Se calhar até fazia bem em sair.