
Não sou nem nunca fui pioneiro em ler livros electrónicos ou e-readers; apenas tive sorte numa troca de prendas, quando alguém no Reddit me enviou um reader carregado de livros de Star Wars – aproveitou-se mais o aparelho!
Era usado, básico e a bateria estava viciada, mas adorei senti-lo nas mãos e avançar pela biblioteca reduzida à ponta dos meus dedos. A experiência foi tão boa que quando o bicho morreu, tive de avançar para algo mais oficial: um Kobo Touch que até estava em promoção na Fnac.
E isto foi estranho.
Quando os readers surgiram, eu era daqueles puristas airosos que diziam preferir o livro físico, o toque e o cheiro do papel, a lombada entre as mãos até que li num: a primeira leitura foi o Silmarillion que estava perdido no primeiro leitor.
Estranhei, mas depois entranhei. Eu estava a ler a uma velocidade que já não lia desde criança, quando comecei a ler por gosto e não por obrigação. Também podia ser do livro que era só belo, mas a verdade é que estava a ler mais rápido, mais livros e com mais variedade.
E foi com ele que comecei a ler o Good Omens e, depois, American Gods. E Pratchett também! Agora que penso nisso, conheci Gaiman e Pratchett através da leitura digital…
Eu tenho dificuldades em escolher o que ler.
Não é como um filme ou jogo em que basta ver um trailer ou vídeos para arriscar. Certo, já vi alguns trailers de livros (existem!), mas são raros e não há para todo o santo livro. Não há trailers para os livros do Eça que arranjei ou para os de Ficção Científica que comprei de autores amadores.
Não podia dar-me ao luxo de comprar livros ao calhas e não gostar; com o reader abri as portas a tantas leituras que nunca iria ler de outra forma.
E isto traz-me a outro ponto: o acesso aos livros que quero ler.
Deixei de estar preso às lojas físicas ou às livrarias; os próprios readers da Kobo têm lojas próprias e há outras lojas digitais; ou pacotes curados para o vosso género favorito – ainda cheguei a comprar pacotes de literatura fantástica de vários autores veteranos e amadores. O que é óptimo para quem publica também.
Depois também há acervos de domínio público com livros antigos que já não vemos nas lojas, salvo em alfarrabistas. Por exemplo, o Projecto Adamastor que faz um excelente trabalho em restaurar obras de literatura, e muitas nacionais!
Ou, no meu caso, se tiverem o livro físico, mas não o quiserem estragar, podem sempre descarregá-lo para o reader. Olá, Hobbit que já está gasto.

E como ficou isso de sentir o livro nas mãos?
Continuo a adorar essa sensação e ninguém ma tira. Pareço um drogadito quando abro um livro novo e tem aquele cheiro de quem saiu da impressora, mas…. Mas.
Estou sempre de um lado para o outro e, muitas vezes, enfiado nos transportes.
Quando andava de barco e vinha sentado, havia zero problemas porque lia confortável e tinha espaço para abrir as asas e as páginas. Melhor, havia tempo para estar a ler como deve ser. Quando passei aos autocarros e aos comboios, a viagem reduziu drasticamente que mal abro o livro e já estou a mudar de linha.
E isso é quando dá para ler. Os transportes de Lisboa vêm tão atolados que há dias (e sem exagerar) em que venho encostado à porta sem poder mexer os braços. Se tentar, é bem possível que apalpe alguém.
Esqueci ler em Lisboa, a menos que vá para longe. Já com um reader que só precisa de uma mão livre para o segurar e mudar as páginas, esmaguem-me à vontade. Se o braço estiver erguido ao peito e com o livro espetado na cara, consigo encaixar cinco minutos de leitura matinal, yay!
E porque ando muitas vezes a pé, aprendi a ler a andar. Uma técnica de primeiro mundo super inútil que me deixa ler por mais cinco minutos e evitar que falem comigo para vender coisas.
Também só o faço em caminhos que já conheço como do Metro à porta do escritório e vice-versa, ou até à porta de casa enquanto há luz.
Não tentem isto em casa. Esperem, só tentem isto em casa! Não tentem na rua ou podem ir contra a qualquer coisa, mas se quiserem mesmo tentar, metam-se atrás de pessoas para uma protecção adicional.
E não tentem com livros físicos porque para além da leitura, ainda terão de mudar as páginas e podem atrapalhar-se. E parem nos sinais!

Portanto, quando me dizem que gostam do livro e de folhear e de o cheirar e as baterias e esses mimis todos, só me apetece dar-vos um abraço e passar-vos um reader para as mãos. E já o fiz! Duas vezes. E funcionou!
Uma coisa não implica abdicar da outra, muito pelo contrário! Por ter conhecido Gaiman e devorado quase tudo dele, tenho uma prateleira só dele, e do Pratchett, e do Martin e do King. Se gostar, compro! Se não gostar, apago.
Uma vez, acabei um livro e faltavam duas horas para o próximo barco. Não ia ficar duas horas a anhar! Fui à Fnac e comprei outro, acho que foi o Notes From Underground porque estava barato. E, com o reader, matam dois coelhos de uma cajadada: têm mais de cem livros armazenados e não andam carregados com o peso de cem nem de um ou dois.
E a bateria é um não-problema. Dura um ou dois meses consoante o modelo. Pimba.
Mais, deixem ver, ah! Têm várias opções de leitura: há tempos estava a ler um livro físico do Alexandre Herculano e o tamanho da letra era tão minúsculo que tinha de ter o livro colado à cara. Ná, arranjei o livro digital e aumentei bem as letras para ler! E há livros com dicionários, e em várias línguas.
Quando comecei a ler os livros do The Witcher, ainda não havia traduções oficiais e li vários contos em espanhol. Passar de um espanhol de sala de aula para fantasia pura, ouch, abençoado dicionário!
O efeito secundário disto é que já dei por mim a tocar nas palavras, em livros físicos, para me lembrar que não há dicionário ali…

Pronto, foi a primeira de três entradas para vender o meu peixe e para não deixar o espaço parado enquanto edito o manuscrito.
As análises e os artigos continuam a sair, portanto fiquem por aí!
Ah, esperem! São amigos do ambiente!
