
Não tenho lido tantas vezes quantas gostaria e sinto-me culpado por isso.
Sempre fui um leitor lento, demoro meses a acabar um par de livros e também me sinto culpado por não ler mais. Depois, aqueles desafios de leitura do Goodreads, os clubes literários ou as perguntas do Que andas a ler? O mesmo, o mesmo.
Demorei ano e meio a ler a série Dark Tower toda. Comecei Interesting Times, de Terry Pratchet, e tenho lido dez minutos por dia, se tanto. Sim, e sinto-me culpado por isso.
Tenho a noção de que lia bem mais quando apanhava o barco há uns bons anos. Eram uns trinta minutos e uns trocos só meus para ler e li bastante sobre o rio.
Em Lisboa, entrava no comboio e estava a sair uns minutos depois. Isto, e quando tinha espaço para ler.
O Kobo ajudou imenso, tanto no acesso a mais livros como à mobilidade da coisa, mas… não era o suficiente?
Por outro lado, também consumo outros conteúdos: jogo e vejo séries/filmes. Lá se vai o tempo para a leitura e nem estou a contar com aquele tempo inútil gasto nas redes sociais, embora ande melhor nisso – acho!
Até que um dia, estava eu a lavar a louça quando me mentalizei de que era tudo FOMO ou Fear of Missing Out, que quer dizer: ter receio de perder alguma coisa; livros que não li e que podia ler; contos que não escrevi, jogos que não joguei, tanto que não vi e isso tudo não ajudava na ansiedade (que até anda melhor com a medicação!).
Ah, admiti que não amava ler.
E soube bem: não amo ler. Gosto de ler. Também dá para ver ao comparar as duas estantes de jogos e de livros.
Mas amo estórias!
E nem me interessa de onde vêm! Desde que sejam de qualidade!, e longe vão os tempos em que tinha de acabar tudo o que começava por pura teimosia; agora com tempo limitado, uma pessoa tem de escolher bem onde enterrar as horas. Não começa bem? Continua aborrecido ou mesmo reles? Fora. E zero problemas em oferecer ou vender para arranjar outros. O lixo de uns é o tesouro de outros.
E depois, os géneros que consumo.
Eu gosto de fugir à realidade e opto, quase sempre, pelo escapismo. Já vivo nesta realidade, se puder ter alguma surrealidade ou magia, venha ela. Mas também não nego algo com os pés bem assentes na terra. Conheci o trabalho de Valter Hugo Mãe durante a pandemia e caí de amores pela escrita dele; não tinha magia, espadas, bestas, espaço e naves espaciais; aventuras e destinos por cumprir, apenas pessoas normais a serem infelizes, normais e felizes.
Também é bom irmos aos clássicos e até fica bem, mas muitos deles são tão sobrevalorizados que nem valem a pena. Li as Viagens na Minha Terra, de Almeida Garret, e achei o livro tão mau, mas tão mau que só o acabei por ser curto. Tive de pegar noutra coisa dentro da minha zona de conforto para esquecer aquilo. Acho que comecei Mistborn, de Sanderson. Esse, sim, era óptimo! Estou a meio da sequela e a sentir o que descrevi acima…
E estes géneros também se aplicam aos jogos e às séries/filmes/desenhos animados.
Tenho a sorte, o privilégio de ter acesso e ter conhecido imensas coisas, de imensos países e de géneros diferentes para me formar como nerd. Só tenho de me formar em gestão de tempo e de expectativas. E aprender a desfrutar o agora enquanto estiver a ler ali no jardim ou a jogar esparramado no sofá ou todo torto num transporte quando puder voltar a entrar num sem falecer.
Se isto era uma justificação para alguém? Era. E sim. Para mim que sou parvo e preciso de validção, nem que seja da minha.