No início, havia tudo.
O mundo estava feito; as suas gentes crescidas e espalhadas pelos quatro cantos viviam na prosperidade dos elementos do Cristal. Mas queriam mais…
Então, houve uma grande guerra entre os que queriam mais e os que se opunham; os mares tomaram a cor do sangue e o solo escondeu-se debaixo dos que tombavam – para esses já não haveria nada.
Os dias seguiam a noite, e seguiam o dia, até o último homem enfrentar a última mulher.
Ele desceu o pesado aço da espada contra o solo, tremendo as pernas da adversária. A mulher crispou a haste da lança e investiu; cada golpe respondido pelo escudo do rival. O sopro da lâmina abria-lhe a pele e ela nunca deixou de dançar à volta dele, até que a ponta da sua lança lhe mordeu a perna para não largar.
Ela não puxou, rodou a haste até ver sangue e fê-lo tropeçar. De cara contra o chão, a urrar, separou-se de espada e escudo.
Deixou de mostrar resistência quando encarou o céu: o último dos elementos livre. O último homem ofereceu palavras demoradas à última mulher vitoriosa com uma pequena bolsa.
Deixou a vida com a cacofonia do seu escudo, nas mãos dessa mulher, contra a bolsa – uma e outra vez até não restar nada íntegro. Ela sacudiu a bolsa, expulsando as bágoas luzentes pelo vento quente. Abraçou-se ensanguentada. Estava feito.