Acabei o Sound of Metal

Há dias e ainda estou preso no filme. Não tenho palavras bonitas para o descrever, portanto vejam-no se puderem.
Mas houve uma (de várias) partes que me “atacaram” e uma delas era sobre o momento de tranquilidade.

A importância de abrandar; de parar. Podem analisar o filme de vários ângulos, as suas metáforas e simbolismos – é válido, mas este disse-me muito mais porque eu não consigo parar, tenho de estar sempre a fazer algo, a caminhar para algo e tenho a cabeça a mil.

No Sound of Metal, o Joe pede ao Ruben para acordar cedo e sentar-se à mesa com um caderno em branco e uma caneta. Depois, só terá de escrever o que lhe vier à cabeça – se lhe vier algo à cabeça, mas a mensagem é: naquelas horas, não terá de fazer rigorosamente nada para além de estar sentado e beber o seu café com um donut. Se der para escrever, melhor.
Só que a experiência torna-se dolorosa e frustrante para o Ruben. E revi-me nisso, mas na minha escrita. Escolhi rever-me na escrita.

Passam dias, demasiados dias, em que não consigo escrever. Apesar de saber o que quero escrever, ou ter as ideias, não consigo sentar-me ao computador para as escrever; ou continuar ao computador depois de um dia de trabalho para escrever.
Não sei se é por associar o computador ao trabalho ou por ter a cabeça num novelo, onde essas ideias enrolam-se em ansiedades ou noutras coisas mais triviais, mas a verdade é que chego ao ponto de imitar o Ruben a espancar o donut. Nunca espanquei um donut; nunca espancarei um donut; os donuts merecem todo o nosso amor, mas aquela frustração, aquela inquietação, foi sufocante e senti isso.
Então, acabo por fazer outra coisa, porque tudo passa, tudo está em movimento e não há tempo para estar parado. E, sem dar por isso, caguei de alto no meu momento de tranquilidade.

Fora da escrita, parece que não consigo simplesmente estar quieto e focar-me no que tenho em frente. Se estou a jogar, devia estar a escrever; se estou a tentar escrever; devia estar a ver uma série; se estou a ver uma série; devia estar a jogar para analisar; etc etc. Ou se estou a ver/jogar/ler algo, estou sempre a espreitar as redes “para ver se aconteceu alguma coisa” porque a simples ideia de estar com o cu sentado e desfrutar do momento é-me dificílima.
Reza a lenda que quando era miúdo conseguia distrair-me (ou abstrair-me) durante horas com um cordel horas a fio – a fio, ah ah…
De repente, tenho inveja desse eu mais novo conseguir bloquear tudo para se entreter com o que tem à frente: um cordel ou um livro para editar.

Quanto à escrita, vou tentar uma abordagem semelhante à cena no filme e logo vejo. Podem ver do que falo no vídeo que vou deixar, mas vejam o filme. Sério.